quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Árvore - Sylvia Plath

Fui ao fundo — ela diz. Sei pela minha raiz mestra:
É o que temias.
Eu não temo: já estive lá.

É o mar o que em mim escutas,
E seus desassossegos?
Ou a voz do nada, não era essa tua loucura?

O amor é sombra larga.
Como mentes e em seu encalço choras
Ouça: estes sã seus cascos: disparou como cavalo.

Noite afora galoparei assim, impetuosamente,
Até tua cabeça virar pedra e o travesseiro a relva,
Ecoando, ecoando.

Ou devo te mostrar o som dos venenos?
É a chuva agora, aquietando.
E este é seu fruto: metálico como arsênico.

Sofri as atrocidades dos poentes.
Escorchados à raiz
Meus filamentos rubros secam e estendem dedos de arame.

Agora me desfaço em pedaços que voam como paus.
Uma ventania dessa violência
Não suporta nada ao redor: preciso gritar.

A lua também não tem pena: me arrastaria
Cruelmente, mirrando-me.
Sua radiância me lesa. Ou quem sabe se a captei.

Deixo que se vá. Deixo que se vá
Diminuída e chocha como se após cirurgia radical.
Como teus maus sonhos me possuem e obsedam.

Um grito mora em mim.
À noite, ele se afoita,
Procurando com suas presas algo para amar.

Essa coisa preta me aterroriza
Dormitando em mim
O dia inteiro sinto seu retorcer fofo, suas felpas, sua malignidade.

As nuvens passam e se dispersam.
São aquelas as faces do amor, aquelas pálidas irremediáveis?
Para isso é que meu coração se turba?

Não sou capaz de outro conhecer.
O que é isto, este rosto
Tão criminoso em sua sufocação de galhos? —
A insídia de seus ácidos beija.
É o que petrifica o querer. São falhas isoladas e tardonhas
Que matam e matam e matam.

(19-IV-1962, tradução de Vinicius Dantas)

[Sylvia Plath; Ela me mata. desmata meu terreno ameno.]

Nenhum comentário: