quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Quantos sóis

Messias havia caído naquela lama, após tropeçar em algumas raízes escondidas no labirinto verde. O franzino menino de nome vigoroso abria os olhos, enquanto uma mão se estendia procurando ajudá-lo. Era um menino que nem ele, só que de olhos mais puxados, pele escura e cabelos esguios. Falava uma mistura de português, espanhol e outras palavras que Messias não conseguia identificar, mas achava muito bonito.

Ele então se levantou ainda sujo e seguiu aquele desconhecido que tinha ares de amizade para sempre. Conhecia cada árvore, cada bicho e cada buraco daquela terra. Corria assim como Messias fazia descalço nos asfaltos de domingo pela manhã, ou como se estivera descendo uma ladeira de bicicleta, com os olhos fechados e o coração sem freios.

Só em correr junto, já sentia uma cumplicidade única. Chegaram a um campo de barro, com traves sem redes e começaram ao mesmo tempo um jogo sem bola. Dribles magníficos, passes mágicos e desejos de chutar com força de rasgar o mundo.

Depois se embrenharam na mata de novo e passaram dias. Correndo, se cortando, sorrindo, levantando outros que caíam, jogando, gritando. Os pés confundiam-se com as raízes que antes tropeçavam e agora tinham a cor de folhas secas. O corpo verde, a cabeça da cor de céu. Não queriam reduzir toda aquela potência de vida às mesmas e velhas questões de sempre, trancadas dentro de casa. Precisavam era dar vazão àquela energia latente que emanava de cada poro. Queriam mesmo era fechar os olhos e mesmo assim continuar enxergando nitidamente aquele maravilhoso sol de todas as cores.


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