sábado, 23 de outubro de 2010

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Retratos da Memória


“No dia que você quiser lembrar de mim, dá uma olhada no retratinho que a gente tirou junto. Eu digo isso porque tenho medo que um dia você também me esqueça.” (Dora, Central do Brasil)

Os olhos de Dorinha e de Josué enchiam-se de lágrimas, assim como o sorriso enchia-se de satisfação, fazendo tudo transbordar. Junto com os olhos deles, os meus. Aos 12 anos de idade via aquela grande aventura de uma senhora e um menino, com uma atenção sublime, propiciada pela delicadeza da professora Gorete, que exibiu para nós um dos primeiros filmes que me fez arrepiar. Era brasileiro, era uma descoberta.

Revendo tais imagens, agora elas tomam ainda mais força, pois carregam consigo um pedaço de mim. Todas aquelas sensações vem à tona, junto com muitas outras que fui acumulando ao longo das experiências latentes, expostos nas telas e pele. Elas então explodem como calafrios de boas memórias.

Agora Josué correndo atrás do ônibus, afoito, também me remetia à João acelerando sua moto atrás do ônibus de Hermila. As cartas sendo lidas por Dorinha, com suas palavras inventadas para agradar Josué, me lembram o apreço que criei por cartas e vinis. Cartola cantando ao fim, fazia surgir, para mim, um outro ponto final, marcante.

Eles se reencontram sempre no retrato que haviam tirado ao lado de Padre Cícero. Ali, naquela pequena imagem congelada, eles se tocam quando quiserem: podem tirar um ao outro de uma gaveta, do quadro na parede, assanhar a poeira dos cabelos e de repente trazê-lo para os braços, num abraço repentinamente divino.
Se imagens são palavras que nos faltaram, fotografias como essa são a melhor poesia que se pode escutar, deliciar, sentindo cada verso recitado doce ao pé do ouvido.


Outro texto perdido pelas pastas do velho computador. Foi feito no ímpeto de um arrepio, assistindo ao Canal Brasil. Escrito em 18 de abril de 2010.