sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Tanto Afeto

    Cometera um erro há muito tempo. Se pode ou não ser considerado erro, não se sabe. Apenas o acompanha desde os primeiros passos de caminhada em vias de mão dupla. Naquelas auto-estradas doces, sempre cometia excessos. Tudo que saía de seus poros pareciam abscessos rompidos que estouravam e se alastravam por ombros, peitos e pessoas. De ponta a ponta transbordava-os de desejos, de forças.
    E em muitos braços não cabia tanto afeto. Tanto olho atento, tantas veias abertas, tanto mar esparramado. Então afastar-se e sentar nas dunas altas era uma precaução, cuidado de mãos cerradas. Num mesmo movimento de pernas caminhando em retorno, o mar se retraía como numa fuga. Como um peito que se esconde tentando pegar todo o ar do mundo. As águas retornavam deixando espumas e distantes se fortaleciam cada vez mais, pra depois quebrar, estourar, assim como mar que arrebenta.
    Daquelas bocas que se abrem por razão dos poros estarem todos juntos e também abertos, dissemina olhos fechados de entrega. Afasta-te apenas um pouco pra poder perceber a imensidão que nos envolve. E não te esqueças disso. Que a luta está dentro de cada grão de areia que a água cobre, pouco a pouco. Mesmo distante não deixe de sentir a febre desse mar. Num vai-e-vem, se quiseres, ele nunca vai secar. Nunca quer cessar.