sábado, 25 de dezembro de 2010

Por isso




Hoje, como ontem e amanhã, te escrevi cartas com açúcar e com afeto. O carteiro as carregava entre cobranças, desejos de boas festas e cartões de crédito. Tocava a campainha e vagarosamente empurrava-as por baixo da porta. Elas deslizavam serenas e se recostavam ao pé da tua parede de azulejos azuis e brancos.

Como não obtinha respostas, alguém podia imaginar que elas se acumulavam, encharcavam-se na chuva e depois se tornavam secas e pálidas com o calor do sol. Mas não. Meu terceiro olho me apontava imagens daquela tua varanda, sempre que eu aportava em formato retangular. Você abaixava-se e ao ver aquela letra torta e feia, sorria silenciosamente. Deixava todas as propagandas na mesa da sala e me levava ao quarto. Daquele teu jeito, rasgava delicadamente cada centímetro do papel. Nesse breve momento, onde quer que eu estivesse, um vento passava e me atingia, me refrescando e acariciando. Eram os ventos que me faziam fechar os olhos.

Ouvia tudo que eu tinha pra te dizer e com uma lágrima querendo cair, levantava-se. Abria a gaveta e com força tentava enfiar-me juntos aos outros tantos eus. Abarrotada a gaveta quase suspirava ao rodar da pequena chave. O vento então se abrandava e eu abria os olhos, continuando a caminhada. Refeito, percebi então que eu queria ventos e não respostas.

Por isso, escrevia.