sábado, 3 de janeiro de 2009

Desata o nó do sorriso, só isso.

Esse era o momento da noite no qual nos despedíamos sem querer. e assim que dizíamos aquele último tchau murmurado, que na verdade era um não querer deixar aqueles braços, corríamos para uma comunicação de palavras, que abrandavam aqueles desejos incontidos com suaves frases que escorriam vontade de nunca mais largar aquela cabeça pesada, naquele ombro extremamente macio, o seu lugar.

Mas hoje o receio tomou lugar na poltrona do silêncio.

Aquele nome escrito em qualquer lugar me sussurrava não.
Aqueles olhos mel-escuro antes ávidos de carícias, agora me apontavam placas de proibido.
Mas não era um proibido que nos chamava a romper limites. Era algo estarrecedor, como "rua sem saída". Um muro.

O mais escroto de tudo é perceber que eu mesmo ergui esse muro, tijolo por tijolo, numa construção inadequada em meio a uma rodovia absurdamente movimentada. Tudo parou neste instante. Aquela parede de blocos fartos já estava lá há algum tempo. Estava velha e rachada, com buracos abertos. E eu não tive a coragem de estraçalhar com a velocidade que vinha. Teria explodido e tudo ido aos ares, inclusive eu.
Mas hoje a rodovia pára e eu fico no meio do caos, com buzinas estridentes por todos os lados. Todos gritam meu nome com raiva e escárnio. Aperto os ouvidos com toda força na tentativa de fugir daquelas vozes que me sangravam, e não consegui. Caído ao chão tudo silencia e ninguém vem ao meu socorro. Afastam-se, uns com olhar de recriminação e desgosto, e vão embora. Ainda deitado percebi que era eu culpado - se é que existe um corpo sem mancha - e o sangue descendo pelo corpo, necessário. Mas em nenhum momento me arrependi de causar todo aquele furacão, redemoinho de desejos irrefreáveis. Estava escrito naquelas palavras gigantes, desde o início.

Olho para cima e vejo junto ao sol forte, braços estendidos. Me levantam e me apertam. Um número considerável até. E entre eles, vejo escondido em meio à pequena multidão, aqueles mesmos braços que se cruzavam quando eu passava. Eles me receberam sem nódulos. O coração estava ao lado, jogado no asfalto quente e seco. Andei e delicadamente o guardei no bolso direito da camisa, bem ao lado do meu, que de tanto bater, parou. Nesse momento continuei caminhando só pelo resto da estrada e pude sentir na boca um gosto de cereja.

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