quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Asas cortadas do sertão




Estrada deserta e casas vazias denunciavam a chegada do sol ápice, vagarosamente cortando ao meio aquele céu aberto e entregue de Caucaia. O que se via de movimento humano eram pés fora das redes armadas em alpendres brancos e silenciosos. Moscas voavam tontas pelos corpos, enquanto algumas televisões chiavam dentro de quartos. Calangos procuravam sombra, nem que fosse em buracos de terra quente. Ninguém podia deter o assobio de calor que trazia duas horas de preguiça farta.

O cenário é acordado por um carro prata, feito bala de revólver repentino, que chega reduzindo a velocidade e fugindo da pista, levantando consigo os corpos das redes e lençóis de poeira marrom.  Descem do carro três rapazes que já ostentam no corpo a marca de fora. Ninguém ali ousaria usar calça jeans àquela hora. Eles traziam consigo, além do ar aprazível, ar-condicionado misturado ao gás carbônico e soberbo. 

- Boa tarde, senhor. - Boa, dotô.

Explicam meia hora de palavras bonitas e deixam escapar na ponta da língua uma estranha menina de nome hidrelétrica. Deu pra entender que ela só vai trazer coisa boa. Isso é certo. Nóis ganha Emprego e ainda a irmã mais querida, uma tal dignidade. Essa sim, o sinhô Deuzim ouviu repetirem umas três ou quatro vezes com sorriso no rosto. Amarelo e forte. Como se fosse presente nunca antes visto naquelas terras.

- Coca-cola ou suco de acerola?

As histórias saem fáceis como o suor da testa. Conta dois litros de vida em quinze minutos. Os rapazes sentam, gostam, gozam. De lado até o galo campina preso na gaiola começou a cantar. Seu Deuzim abriu asas e sentou. Voou dali e nunca mais voltou.

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