sábado, 13 de novembro de 2010
Roda Gigante
Delicada, como pés de bailarina. Ao fim do espetáculo exibia apenas para si - sua mais exigente platéia - atrás das cortinas negras, os calos endurecidos e o sangue que escorria pelo calcanhar. Mal sabia que ao longe as mãos que aplaudiam mais forte aqueles passos, eram as mesmas que chegariam ao seu corpo no instante de qualquer queda. Sentado na primeira fileira, mas ainda distante dos holofotes, seu sorriso entrava em cena. Apesar de todos os tropeços e abismos, fora o primeiro a chegar e de lá nunca saiu. Permaneceu sentado ao pé do palco. Dançava junto, com olhos fechados, pois dentro do peito o espetáculo não tem fim. Segundo ato. Novos atores, novos passos. E no bolso da camisa um lenço embebido em água salgada, que aos poucos secava, tornando-se agora mais uma peça da armadura. A roda-gigante voltava a funcionar e de cima já se sentia o cheiro de café. Lá o vento é mais forte, onde nenhum concreto o impede de passar. Aquele barulho de velocidade com janela aberta deixava surdos os ouvidos para qualquer grito de aviso. Nenhuma queda o impediria de querer subir cada vez mais. Como fumaça, desfazendo-se ao sabor dos ventos, o cinza agora se confundia com imensidão azul. Saindo do túnel levanta o rosto para enfrentar a multidão. Olé.
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